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quarta-feira, 11 de julho de 2012

SÍNDROME DA URINA ROXA

    
     Não é de se esperar que ao se conferir a diurese de um paciente na bolsa coletora de urina você encontre uma urina roxa! Parece que essa cor não faz parte das nossas secreções. Imediatamente, eu perguntaria por que a paciente recebeu azul de metileno. Para surpresa, a urina drenando na sonda vesical ainda seria amarelo-citrino, como se espera na urina normal. Qual a explicação?

       A Síndrome da Urina Roxa (Purple Urine Bag Syndrome) remete a relatos de 1812, quando os médicos do obstipado rei da Grã-Bretanha George III descrevem que a urina do rei coletada em potes "deixa um anel azul pálido sobre o vidro". Sua primeira descrição formal como entidade clínica foi feita em 1978.
       
     Infecções do trato urinário de repetição, cateterização crônica por sonda vesical de demora e constipação são fatores de risco importantes que se encaixam na explicação da gênese da coloração característica. Um relato mostrou até 27% de incidência da síndrome em um hospital geriátrico, outro colocam como incidência geral de quase 10% em pacientes institucionalizados e sondados cronicamente.

        Tudo se inicia com o metabolismo do triptofano, aminoácido da dieta, que é deaminado pelas bactérias intestinais em indol, ácido pirúvico e amônia. Logo, a obstipação dá mais tempo para essas bactérias degradarem o aminoácido e de o indol ser obsorvido pelo sistema porta. No fígado, ele é conjugado com sulfato e excretado na urina como indoxil-sulfato. Aqui, na presença de bactérias produtoras de sulfatases e fosfatases, o radical sulfato é separado do indoxil. O indoxil, por sua vez, na presença de pH alcalino, se oxida em índigo e indirubina, esses os responsáveis pela coloração azul-roxa (azul + vernelho).



      As bactérias geralmente relacionadas a síndrome são Providencia, Escherichia coli, Proteus mirabilis e Klebsiella pneumoniae, germes comuns em ITUs e produtoras de sulfatases. Na maioria das vezes, essas ITUs são polimicrobianas. Já foi descrita a síndrome em nefrostomias, cistostomias e até em bolsa ileal com anastomose de ureteres após ressecção vesical. Diz-se também que bolsas coletoras de PVC, material plástico que a constitui, facilitariam a precipitação do pigmento.

             
     A princípio uma situação inocente, alguns relatos descreveram poucos casos de síndrome da urina roxa evoluindo para síndrome de Fournier causada pelas mesmas bactérias da ITU quando da cultura de tecido. De qualquer forma, sua presença é um sinal de infecção a ser tratada e conhecê-la diminui o susto quando de manhã você ver a cor daquela urina.


W. N. Arnold, “King George III’s urine and indigo blue,” The Lancet, vol. 347, no. 9018, pp. 1811–1813, 1996.
JAMA, May 9, 2012—Vol 307, No. 18. Letter to editor.
Fahad Khan,Muhammad A. Chaudhry, Noorulain Qureshi, and Benjamin Cowley. Purple Urine Bag Syndrome: An Alarming Hue? A Brief Review of the Literature. International Journal of Nephrology. Volume 2011.