Existem 3 respostas básicas à
diminuição da temperatura corporal: a busca de abrigo, vestes, locais
aquecidos; o tremor; e o aumento da produção endógena de calor. Esse terceiro
item é mais evidente em lactentes, que têm a gordura marrom, rica em
mitocôndrias e com capacidade de aumentar em até 3 vezes o metabolismo basal da
criança. Já o adulto, com todos os componentes da resposta, pode ter um aumento
de até 10 vezes.
Todas essas
respostas, principalmente o comportamento de buscar calor, parecem-nos óbvias e
lógicas. Entretanto, em indivíduos com hipotermia moderada (30-34ºC) a grave (<30ºC), pode
ocorrer o contrário: estando com a temperatura corporal diminuída, o paciente
retira suas roupas. É o chamado paradoxical
undressing (“despir paradoxal”), ocorrendo em até 25% dos casos de óbito
por hipotermia. Logo, os corpos são encontrados completamente ou semi-nus, com
as vestes dispostas em “trilha” até o local onde o indivíduo foi encontrado sem
vida. Geralmente, a pessoa inicia a retirada da roupa pela parte de baixo, sem
motivo óbvio para tal. A principal hipótese para explicar tal fenômeno é que
após a vasoconstrição inicial em resposta à baixa temperatura, ocorre lesão dos nervi
vasorum pelo frio intenso, culminando em vasodilatação por vasoplegia das
artérias que suprem a pele, dando a sensação de calor à pessoa. Já torporosa
pela hipotermia, irracionalmente ela retira as vestes, aumentando ainda mais a
perda de calor.
Outro
comportamento interessante em pacientes com hipotermia é o de se abrigar
em locais estreitos, numa atitude primitiva de se proteger (terminal burrowing behaviour, hide-and-die syndrome). Exemplos
típicos são embaixo de camas, atrás de armários, em depressões ou buracos no
solo, embaixo de bancos de praças ou atrás de arbustos, esses três últimos
quando em campo aberto. Muitos dos locais são de difícil acesso, onde os indivíduos
conseguem chegar rastejando. Como geralmente esse reflexo ocorre após o paciente ter se
despido, é comum encontrar escoriações em joelhos, cotovelos,
dorso de pés e face. Diferentemente de outras causas de morte, é
típico esses pacientes serem encontrados em decúbito ventral, com os membros
inferiores extendidos e os superiores flexionados sobre o tórax, numa atitute
de rastejar. Uma segunda forma comum é a posição fetal. Discute-se se a procura
desses locais para se abrigar seria uma tentativa de se aquecer ou um reflexo
primitivo de se esconder e se proteger de predadores enquanto com o metabolismo
diminuído, como nos animais que hibernam.
O que pensar
de uma pessoa encontrada nua num ambiente frio, em decúbito dorsal e com escoriações, além de encravado em algum canto estreito? Imediatamente, remete-se a
uma pessoa violentada, principalmente se mulher, e a tentativa de se esconder o
corpo! Todas essas características próprias do paciente em hipotermia grave e o
ambiente no qual ele é encontrado orientam tanto os socorristas quanto os
policiais e os legistas, caso encontrado morto, de não obrigatoriamente se
tratar de um crime, mas uma série de comportamentos primitivos e patológicos
desencadeados pela hipotermia no organismo humano.
J Forensic Sci, Jul. 1979, Vol. 24, No. 3
Int J Leg Med (1995) 107 : 250-256
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