A miastenia gravis é uma doença neuromuscular autoimune na qual há produção de auto-anticorpos contra o receptor pós-sinaptico da acetilcolina na placa motora. Sua apresentação típica é fraqueza muscular generalizada, flutuante, que piora ao longo do dia ou após atividade física. Seu diagnóstico é tradicionalmente feito por eletroneuromiografia, dosagem de anticorpos anti-receptor de acetilcolina ou teste do edrofônio.
Até 70% dos pacientes têm acometimento ocular no quadro inicial, com ptose palpebral e/ou diplopia. Na evolução da doença, até 90% dos paciente terão sintomas oculares, sendo que 15% desses podem ter doença ocular exclusiva, dificultando o diagnóstico.
Alguns estudos demonstraram melhora das manifestações clínicas em períodos frios e piora em estações de calor, quadro justificado pela diminuição da atividade da acetilcolinesterase em temperaturas menores que 28 graus, aumentando a concentração da acetilcolina na fenda sináptica da placa motora e sua atividade nos receptores pós-sinápticos.
Baseado nessa observação, surgiu o TESTE DO GELO ("ICE PACK TEST"). O teste consiste em se aplicar gelo em contato com a pálpebra em ptose por 2-5 minutos. O teste é considerado positivo quando há elevação da pálpebra igual ou maior que 2 milímetros. Quando o gelo é deixado por muito tempo, pode haver até piora da ptose, pois apesar do acúmulo de acetilcolina na placa motora, temperaturas muito baixas (abaixo de 22 graus) pioram a contração muscular. O teste é validado para pacientes com miastenia gravis e ptose palpebral, chegando a 100% de sensibilidade e especificidade no diagnóstico da doença. Naqueles com diplopia, os resultados são controversos e a melhora é subjetiva e muito breve para se conseguir avaliar objetivamente a melhora da obilidade da musculatura ocular extrínseca.
Alguns autores contestam os resultados do teste do gelo alegando que na verdade o repouso palpebral durante a crioterapia seria o responsável pelo acúmulo do neurotransmissor na fenda sináptica e não as baixas temperaturas. De qualquer forma, funciona e é mais um recurso no pronto atendimento de pacientes com fraqueza muscular e ptose palpebral.
Acta Medica Iranica, Vol. 43, No. 2 (2005)
Arq Bras Oftalmol. 2010;73(2):161-4
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