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domingo, 30 de outubro de 2011

ETIL GALATO - UM NOVO VASOPRESSOR?

        
        Etil galato (EG), um composto antioxidante presente em nozes e vinhos, mostrou-se eficaz em tratar hipotensão em modelos animais de choque séptico. Seu princípio de ação baseia-se nas recentes descobertas de que a lisozima e o peróxido de hidrogênio (H2O2) participam no processo de vasodilatação da sepse.
        
         A lisozima, descoberta por Fleming em 1922, é uma enzima leucocitária que participa na destruição da parece celular das bactérias. Quando ocorre a ruptura das membranas dos leucócitos, como em processos infecciosos, há liberação dessa enzima na corrente sanguínea. Paralelamente, foi demonstrada sua capacidade de gerar peróxido de hidrogênio (H2O2), espécie reativa de oxigênio, capaz de lesar células e tecidos, além de participar da disfunção vascular do choque séptico. A função do EG seria impedir a ação deletéria do H2O2, evitando sua formação a partir da lisozima. Agindo em sítio diferente, o antioxidante mantém as propriedades bactericidas da lizosima, alem de ja ser bem estabelecida atividade bactericida intrinseca do antioxidante. De maneira interessante, o EG não tem efeito em indivíduos normotensos ou com hipotensão não-séptica, diferentemente dos vasopressores habituais (dopamina e noradrenalina), trazendo menos efeitos colaterais.

         Anteriormente, já se havia demonstrado que o EG era capaz de manter pressão arterial média e perfusão orgânica e periférica adequadas em modelo animal de choque séptico induzido por E. coli, porém sem ser comparado a outro vasopressor. Estudo recente publicado no Critical Care Medicine mostrou que o EG foi tão eficiente quanto a noradrenalina (NA) em manter parâmetros hemodinâmicos adequados em um modelo animal de sepse por P. aeruginosa. Além disso, vantagens do EG sobre a noradrenalina mostradas no estudo foram:

1) menos taquicardia. O efeito da NA nos receptores beta-1 justifica o maior freqüência cardíaca nos animais tratados com essa droga vasopressora, mecanismo de ação diferente do EG, que manteve frequencias cardicas menores, uma vantagem em pacientes cardiopatas;

2) não houve aumento de troponina T. Estudos anteriores relacionaram o aumento das troponinas em sepse com o aumento de mortalidade, podendo a cardiotoxicidade ser mediada tanto pela ação de agonistas adrenérgicos quanto pela miocardiopatia própria da sepse. Nesse contexto, pode-se sugerir um efeito cardioprotetor do EG, enquanto com o uso da NA houve aumento da enzima marcadora de lesao do miocardio.

3) maior débito urinário foi mantido no grupo que recebeu EG, e menor retenção de creatinina. Além da já demonstrada ação antioxidante, protegendo as células renais de radicais reativos de oxigênio, a manutenção da perfusão renal mais adequada com o EG pode justificar esses resultados.
Outros alvos já foram tentados para tratar a disfunção cardiovascular da sepse, como os inibidores da óxido nítrico-sintetase. Eles mostraram melhora da hipotensão em pacientes sépticos, porém sem mudança na mortalidade. A diferença com o EG seria que esse consumiria o H2O2 (gerado a partir da lisozima leucocitária), evitando que leitos vasculares fossem atingidos, diferente dos inibidores da óxido nítrico-sintetase, que inativariam a atividade da enzima como um todo, sendo, portando, menos fisiológico.
Apesar da melhora da perfusao arterial, outros sinais de sepse se mantiveram nos animais estudados, mostrando que outros mecanismos estão envolvidos e que o novo vasopressor não atuaria em todos, somente naqueles mediados pela ação do H2O2. Apesar de promissor, efeitos em mortalidade não foram aferidos.
Agindo por outro mecanismo, o EG é uma possível droga vasopressora que se juntaria às já consagradas, podendo somar suas ações no sentido de manter uma PAM adequada e, consequentemente, perfusão adequada em paciente com choque séptico. Talvez alguns pacientes que perdamos no ambiente de terapia intensiva com choque refratário às drogas habituais tenham outros componentes fisiopatológicos da vasoplegia da sepse, podendo se beneficiar de novas drogas que neles atuem.

J Appl Physiol 2011; 110:359–374
Crit Care Med 2011 Vol. 40, No. 2

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